DIA DE CHUVA
Dia de chuva foi feito
Pra aproveitar seus vagares,
Sair achando os perdidos
Ou então trocar seus lugares.
Pra ficar cheio de planos,
Com a idéia bem regalona,
Sentado à beira do fogo
Ouvindo o chio da cambona.
Dia de chuva foi feito
Para engraxar os arreios,
Tirar os dentes da faca,
Coçar o lombo no esteio.
Pra ouvir o ronco da enchente
Lá nas barrancas do passo,
Olhar pra o tempo assobiando,
Passando um tento no laço.
Dia de chuva foi feito
Pra um mundo novo inventar
E falquejar este invento
Pra ver o dia passar...
Dia de arroz com galinha
Bem gordo e feito na hora,
Só pra saber quem resmunga
Se é a rapa ou o tempo lá fora.
Dia de chuva foi feito
Pra descansar das canseiras,
Contar as ripas da casa,
Sestear ouvindo as goteiras.
Com a china embaixo do poncho
Sentir-se despeonado,
Chuliando a boca da noite
Pra levantar aluado.
Dia de chuva foi feito
Pra comer “bolinho frito”,
Botar as vacas mais cedo,
Contar uns causos antigos.
Sair fazendo sinuelo
Dessas lembranças atoas,
Ouvindo o ronco das sangas,
Branqueando, longe, as lagoas.