ESPELHO DE MIM
Eu ONTEM lembrei de ti:
passado, velho grisalho,
enquanto tenteava a sorte
nas manilhas de um baralho.
Me vi nas crinas de um mouro
pelos salinos das geadas,
fui campo estendendo um trote
e agora sou das calçadas.
Inda antes meu amor
jurou sonhos por alianças,
agora vive em milongas
nos longes de uma lembrança.
Olhei fotos, quis a vida
que outro postou ao léu,
eu feliz não me entendia
sempre buscando mais céu.
Refrão:
“Há munto” tempo, nas horas
esporiei os meus motivos.
Olhe bem cá nos meus olhos
meus escramuços de risos,
minha vida é filme antigo
mescla inferno e paraíso.
Se antes eu fui paisagem
de a cavalo ou num trator,
bolqueando terra e veiáco
nas vocações de interior.
Vivo cantando ao meu povo
por mates que nem cevei,
num banco de rodoviária
sou o sumo do que herdei.
Mas HOJE, por andarengo
mesmo no tranco mais duro,
minha pequena paisagem
só sabe ser do futuro.
Nossas histórias iguais
fazem planos no rincão,
cada presente é um regalo
quando adota um coração.