O pátio da minha saudade
‘- O rincão vivo da minha saudade
Tinha um ranchito humilde
Onde as riquezas residem
Cercado de bons sentimentos
Cada palavra, um ensinamento
Do pai na sua lida de peão
A mãe nas lidas de fazer o pão
Nos deixam saudades de cada momento...’
O pátio lindo da minha infância
está erguido apenas na memória
Aquele campito já virou história
Uma tapera se quedou, tombada
Trincheiras de pedras, agora amontoadas
Tristes esqueletos de costaneira
Tem tarros juntando poeira
E a cancela da frente, quebrada.
“Aquele rincão foi o meu mundo
O pátio do fundo – a maior das estâncias
Eu tinha gadaria, léguas de sesmaria
De osso era todo o gado branco
eu tinha tropilha que seguia meu tranco
feitas de pedrinhas de tudo que é pelo
aquelas do rio, eram pingos sinuêlos
enferrujadas, feito os rosilhos bragados.
...
os restos das pedras da velha mangueira
branqueadas do tempo fazia de mouros
e as pelagens bonitas que ao sol viram ouro
das pedras da estrada do chão colorado
seriam meus pingos de pelo gateado.
Eu era o domador da tropilha mais linda
mas um dia encilhei a realidade da vida
E nunca mais pude doma-los e tê-los.”
‘As cifras que valem de verdade para a gente
são feitas de gente e viver o tempo do nosso agora
quando se sofrena o tempo e crava-lhe esporas
buscando uma amanhã que não se sabe onde está
ele dispara de forma que não se alcançam as rédeas
e jamais se consegue voltar ao mesmo lugar...’
A maior das fortunas segue existindo
Naquilo que cifras não podem comprar
Naquilo que notas nem sabem contar
A Infância simples na estância riqueza
A voz de carinho chamando pra mesa
A mais bela oração pela voz do pai
São lembranças que da alma não sai
Uma chama viva, de saudade acesa.
Ao buscar cruzar a pontezinha da sanga
Busquei ganhar asas pra ganhar o mundo
Deixei um lugar de terra e amores fecundos
Para ir pra cidade, conhecer a saudade
Juntar plata... e cavalos de verdade
Mas não sei doma-los como sempre sonhei
Pois o pátio, meus pais, e eu mesmo tombei
Enquanto buscava lutar contra o tempo...